sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A volta



Apertava-me a alma
beijando-me os pés.

Vestia roupas discretas,
lendo mensagens secretas
de amores alucinados.

Havia sinais iluminados
nos pulsos e na linha
 dos dedos.

Abriu armários,
lavou pratos
 e xícaras.


As unhas bem cuidadas,
riscavam no corpo malhado,
as marcas do destino.

Nas paredes do quarto
rabiscou com lápis vermelho:

"Sigo pássaros e nuvens.
Beije meus retratos
voltarei amanhã".



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Olhos náufragos

Descrevo  as almas
 vendo o espelho
das águas.


As chaves  nas mãos,
não abrem as portas
 nos vales da noite.

Atrás de tudo,
 armários guardam
retratos mofados.

Os olhos
sangram
rios e
lagos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Aviso



A porta é estreita
às almas que pregam
a liberdade e o amor.

No Dia D

No meio do sonho
havia uma pedra.

 Homens ouviam
pássaros e folhas.

Acordavam amores
 dentro das manhãs.

Silenciosos, bordavam 
a bandeira do divino.

Saíam das sombras, 
cheios de ouro e rubis.

Mergulhavam meus olhos
o olhar do Drummond.
O eco dos poemas
coloriam as camisas.

Vagarosas,as horas
passavam entre facas,
fuzis.

Ouvíamos sussurros
nos lábios das moças
descendo  escadas.

O poema escreve-se
debaixo de lâmpadas;

 No azul das nuvens,
viajam vaga-lumes.
Há protestos nas salas
 sem terços, sem velas,
 na hora das rezas.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Afago


Dormem estrelas.
Escrevo poemas
sobre as cores 
das manhãs.

No espelho,
afago os olhos
com  lágrimas. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Minha Alma

Minha alma,
rio cristalino,
sangra amor.

Cuidado! 

Sempre choro,
quando morre
uma flor.

Num canto calmo,
passa a saudade,
apago a tua dor.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Na Hora H




Desfio o bordado
das almofadas
e guardo o sol
no tapete da sala.

Na hora H,
o amor deságua.

Meu riso
acorda estrelas.
Ouço o estalo
das folhas longe
das fogueiras.

Giram os dedos.
Descasco maçãs.

Canto à espera
das manhãs.




quinta-feira, 16 de outubro de 2014

No ar

 é preciso navegar

como
rima
no ar 

sobre ondas
 celebrar  os olhos
de Iemanjá.

É preciso
flutuar
nesse mar.




quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Com toda a alma

Com toda a alma, perco-me de amores.
e beijo teus retratos colados nos muros.

Não guardo o medo dos fantasmas.
 Saio cedo... Abro as portas da rua.

Escrevo o poema na margem das folhas,
vejo a rota da loucura  dentro das bolhas,
e nas calçadas lavadas com  sabão em pó.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Poema atrás do muro


Alguma coisa existe atrás do muro.
A poesia é mínima para expressar
aquilo que meus sentidos percebem.

Existe alguma coisa...

Será a beleza das flores
no ritmo dos meus sonhos?

Há palavras soltas no poema
quando gira a cabeça debaixo
 das rodas do mundo.

Existe alguma coisa atrás do muro.
Perturba-me a alma, rouba-me o sono
e leva-me ao cansaço de tudo.

Leio frases desconexas escritas
no asfalto na hora do rush.

Alguma coisa existe
para que eu possa habituar-me
à morte dos dias, ouvindo
os homens pedindo socorro.

Se alguma coisa existe,
porque o muro não revela
a realização do meus sonhos?

E tudo se perde e se solta
 e tenho as mãos secas e vazias.

Faço  as orações aos  anjos
do céu e da terra.

E se não faço, e se não posso,
peço em silêncio o meu perdão.

Alguma coisa existe atrás do muro
e sei que é cedo para chorar.

domingo, 28 de setembro de 2014

Rua Vazia

Na rua vazia, um homem
sempre encontrava portas
 fechadas e rostos escondidos
 atrás das vidraças.

Seu corpo esquálido
 despertava os olhos
 da senhora nua.

O homem passava..

o passo lento,
o gesto largo
abraçava o vazio.

 Tiros alcançaram
o muro dos quintais.
A cidade despertou
antes da missa.

- Assalto,
assassinato
 ou suicídio?

Num dia mais claro,
 pessoas apressadas,
 enterraram o homem
da rua vazia.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ruas de Abril

Nas ruas de abril
o medo e a sombra
brincaram de roda.

Nas janelas e portas
rasgaram segredos
 nos olhos do povo.

O absurdo pomposo
passado e revisto
perdeu os sentidos
na queda das horas.

No verde das folhas
na ponta dos corais,
Os galhos quebrados.

O hino composto
nos lábios rimados,
na força dos pulsos,
os poemas cantados.

Nas ruas de abril
o medo e a sombra
contaram a história.

( Inspirado no movimento "Diretas Já" e dedicado a Tancredo Neves)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Língua-Seca



É preciso sentir o pulso
e acalmar o coração.
Quero ouvir estrelas
nas curvas de tua mão.

Ganho o mundo,
não fumo haxixe.
Ouço cantigas,
danço maxixe
 entre pedras
e urtigas.

Soy latino,
língua-seca nordestina.

Minha sina:
é a luta corporal
no meio de flores
e espinhos,


Venho de prosa e poesia.
Nas veias tenho o sangue
  índio-branco-negro.

No sertão esmaecem luares,
no horizonte, renascem
Corisco e Lampião.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Na tua ausência

Não fosse o medo,
mais largo o aceno,
 maior o poema.

Ao som de flautas,
escrevo
 saudade

e sinto a chama
 dos círios
a iluminar ausências.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Canto de homens e pássaros

Há uma certeza clara:
O amor dissolve pecados
marcados nos dedos.

(Sou vivo quando amo).

Esqueço todas as dores
e entrego-me aos olhos
de homens e pássaros.

Recebe a poesia
novos ritmos e palavras
 encantadas.

Vence o amor as sombras,
e desenham flores, os olhos
 iluminados.


domingo, 21 de setembro de 2014

Para Rock Hudson



No encontro das seixos,
ouvimos assobios do vento.
duendes regam as flores,
aceleram os passos.

Abraços iluminam ossos
 de amores sem laços.

Um chamamento:
Rios e mares,sugam
fios de lágrimas.

Um polimento:
poemas na alma
longe das páginas
jogadas na lama.

Um merecimento.
folhas, flâmulas
e linhas no espaço
onde nasce a dor. 

sábado, 20 de setembro de 2014

Poema Coragem



No mar eu vejo
o medo das pedras,
na quebra das ondas,
nos olhos dos peixes.

O medo-espinho
o vento quebrou.
O medo de pedra
 o amor afogou.

Ainda vibra no peito
um medo maior:
perder a esperança
no azul da alma.

O resto de lodo
ardendo nos olhos,
a gota de lágrima
caindo na lama.

Teus olhos claros
dizendo meus versos
na sombra dos desejos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Meu primeiro livro "Viagem para Castália" foi lançado em 1986, na Bienal Internacional do Livro em São Paulo. Imaginem que eu escrevia meus poemas, reproduzia-os no mimiógrafo e distribuía para amigos e professores.